___________________________________________________maiêutica à la carte__________________________________________

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n.º 117, 2º


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Se somos o que comemos então quer dizer que nenhum outro objecto nos representará melhor do que o nosso próprio frigorífico doméstico? A confirmar-se como verdade insofismável o que é do censo comum, passaremos a ter, então, a obrigação moral de deixar de considerar como boçais as conversas triviais de alto valor proteico tão recorrentes entre a espécie marsupial. Até consigo imaginar o adágio doméstico: « acabaste por comer quem? Quem foi a gaja que papaste? A Candy, já escolhi é Candy? Então e tu? com tanto rodízio não me surpreende a dificuldade da escolha de ontem hein? Bosh, claro! Bosh é brooom! Barriguinha cheia, estou a ver».

Pois bem: esta manhã dei por mim a confrontar-me com esta evidência. Dirigi-me de imediato ao B.I.-de-trazer-por-casa e zás: não sou Candy, nem Bosh, sou Stupid. A marca já não se vê. pouco importa. O autocolante vermelho sob o qual se oculta a Liebherr dos tempos de outrora relembra-me o que gostaria que em mim permanecesse. E chapa-me, relevando, o que sou, presentemente: Stupid.

Foi o que aprendi esta manhã enquanto tomava o pequeno almoço. 07h30m mais minuto, menos minuto. Desta feita a convidada a juntar-se à mesa no Bom dia Portugal foi a Prof.ª Isabel do Carmo. Médica, endocrinologista, e uma das maiores especialistas portuguesas em obesidade e comportamento alimentar. - de vermelho se pinta o coração saudável e a hemoglobina, mas também o vigoroso vermelho de punho cerrado, de que se reveste a sua ideologia. Chegou inclusivamente a dirigir o jornal Revolução do Partido Revolucionário do Proletariado - . «Nós somos o que comemos, nós somos o que comemos» repetia vezes sem conta Isabel do Carmo de forma resoluta, num tom agudo, embora desprovido daquela gravidade dogmática e sepulcral, apanágio dos comunas, como que dissipando todos e quaisquer deslizes existências tão característicos no reino dos indigentes às portas da vindima...
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Sempre a admirei, desde muito novinha: comunista sorridente, feminina e amistosa, sem olheiras a carregar o rosto, nutricionista formosa e voluptuosa, bonita e querida, de aspecto saudável é uma raridade. Uma complexidade equilibrada que muito me fascina, confesso. As suas palavras souberam-me a morangos silvestres da região do Oeste, regados a champagne Moët rosé, tão do agrado de Sartre, servido num copinho de plástico saído de uma fábrica de moldes da Marinha Grande, e sorvido por uma palhinha flutuante surripiada no MacDonald’s da rotunda da zona industrial, bem próximo do estádio operário Marinhense .
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Com ela aprendi que em circunstância alguma devemos apresentar o nosso B.I. c/ o estômago colado às costas.
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3 comentários:

  1. Anónimo23:13

    delícia de post!
    **kika

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  2. smeg(gy) é doce e fofinho, whirlpool absolutamente arrasador, fatal, melódico, e fagor poderoso. fagor, adoraria chamar-me fagor *

    :))

    [este post é ridículo!!]

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  3. Anónimo13:26

    hahaha, sua louca!! eu que sei! gostei e pronto. é singelo :)
    *fagor é um bom nome, posso chamá-la assim se quiser. mas apesar de poderosa acho que vc tem mais cara de smeg, olha que graça!

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