______________que cena, que filme, que treta, que merda - o simulacro em remake, série b - literalmente_________________

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Este recorte de imprensa, datado de meados de Julho, trouxe-me à memória dois comparsas

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_herói dos pequenos delitos, Michel Poiccard de seu nome, janota bric-à-bric_
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Vestia Pierre Cardin; fumava charutos cubanos; fazia do carpe diem o seu modus vivendi. Praticante confesso da filosofia de vida rebelde, peregrino da doutrina segundo a qual Deus não habitava e a Fé não conhecia morada, ou a habitar e a existir teria lugar no motor de um automóvel de luxo e o paraíso seria na terra transcorrida a todo o vapor, não por força das nuvens velozes e voláteis que delimitam as extremas do firmamento, mas da carburação de um topo de gama puxado a uma centena de cavalos vorazes ou coisa parecida. Sou gaja, pelo que não percebo patavina que tenha tracção superior a 2 rodas, como tal je vous demande pardon…Deus não era brasileiro era mulher, Carmen Miranda…? Não me fiz entender, quer-me parecer. tradução livre: carro-bomba/bomba-desejo/desejo-deus/deus-objecto/objecto-mulher/mulher-bomba. Posto isto: Deus. Deus: substantivo concreto omnipresente do género feminino declinado no plural dos bem-aventurados seios desnudos, porque aos souttiens, isentos de qualquer indigitação alheia, estaria acometida a flamboyant fogueira da santa inquisição; em dias cheios de graça a deusa sentar-se-ia à direita do pai conforme as sagradas escrituras dos guiões, no lugar do pendura. Carmen Miranda? Não. Patricia Franchini, naturalmente. Poiccard, Poiccard, retornemos à nossa causa: o bom rebelde, esse transgressor da tradição cinematográfica hollywoodesca que a dada altura, sem pudor algum, se vira para o rebanho tresmalhado do pobre pecador, - espectador, pardon merde!- e manda-o ir-se foder [onde é que eu já vi isto senhor Manuel Pinho…]. Efeito: foi perseguido por dois polícias supostamente justiceiros, sendo um dos quais Monsieur Godard se a memória não me trai. É apanhado, é alvejado, é morto no final à queima roupa sob o olhar mudo, demorado, cor de esmeraldas preciosas da deusa de cabelos platinados, cujo comprimento dos mesmos não excedia o meu polegar, olhos magnetizantes porém destituídos de piedade. Tornou-se herói.
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__outro rapazinho, outro episódio, outra afinidade mas desta feita literária, o Holden Caulfield . adivinharam_
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A certa altura o puto crescidote recorda as desastrosas opções de vida do irmão D.B. lamentando o facto de deixar de ser um escritor sério desde que se transladara de corpo e alma para Hollywood tornando-se «prostituto» na sua mais recente ocupação profissional: guionista. Mas «onde raio fica isso» concretamente? coordenadas: um lugar de profana luminescência proveniente de celulóides, estrelas [de]cadentes, néons fulminantes e afins, que à luz da reverberação prosaica do próprio não ficaria «muito longe deste sítio merdoso onde vive», desde então abandonado pelo irmão. O irmão peca. Peca por défice de dignidade da condição de vida pela qual optou, peca pelo excesso de status almejado e por fim granjeado « comprou agora um jaguar. Um daqueles brinquedinhos ingleses capazes de dar trezentos à hora. A toda a velocidade. Agora passou a ter massa que se farta, agora está em Hollywood, o D.B., a prostituir-se em Hollywood. Se há uma coisa que odeio, é o cinema. Nem quero que me falem nisso.» Holden, um jovem púbere que não estava de todo «para aí virado». Para onde? Para o mundo dos adultos: chumaços, tacões, saltos alto, etc...., - próteses imprescindíveis para escamotear a pequenez humana e iludir a lucidez; adereços necessários, enfim, para muscular a condição humana sob a forma de camadas e camadas de maquilhagem tão bem figuradas e [e]levadas ao extremo da caricatura neste filme de humor caostico-burlesco no qual o exm.º senhor Bergman versa sobre a ambiguidade lúdica do homem [sentimento partilhado por tantos de nós, por mim, principalmente :), que escrevo estas linhas sob a forma de desabafo enquanto os meus botões gozam das tão merecidas férias , adiante]. Holden, odeia cinema [segue-se um senhor ponto acompanhado, de braço dado, c/ a senhora esdrúxula vírgula] Holden odeia cinema é certo, não obstante, nem sempre é fácil resistir à teoria quando a prática do tédio se acentua - por isso recua, cedendo; senão ouçamo-lo na sua fraqueza:
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«Ao fim de algum tempo chateei-me de estar sentado no lavatório, por isso recuei um bocado e desatei a fazer sapateado, só porque me deu para aí. Estava só a divertir-me. Não é que eu saiba mesmo sapateado ou coisa assim, mas o chão da casa de banho era de pedra, e era bom para sapateado. Comecei a imitar um daqueles tipos que vêem no cinema. Num daqueles musicais. Odeio filmes como o veneno, mas dá-me gozo imitá-los. O amigo Stradlater ia-me observando pelo espelho enquanto se barbeava. E eu dou tudo por ter público. Sou um exibicionista. "Sou a merda do filho do Governador", disse eu. Estava-me a dar um grande gozo. A fazer sapateado assim à toa. "Ele não quer que eu faça sapateado. Quer que vá para Oxford. Mas está-me na merda do sangue, o sapateado. O amigo Stradlater ria-se. Tem algum sentido de humor. "É a noite de estreia das Ziegfeld Follies." Estava a ficar sem respiração. Quase não tenho fôlego nenhum. O dançarino principal não pode continuar. Está a cair de bêbedo. E quem é que hão-de pôr no lugar dele? Eu, já se sabe. "O bom do puto filho do Governador."»
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Ponto Parágrafo.
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Toda esta treta ocorreu-me a propósito deste minúsculo recorte… deste simples recorte quão prosaico que confirma o nosso fa[r]do. Esbocei esta merdice que escrevi no peitoril de um país semeado à beira da falésia, diante da orla espectral em que vivemos: país traidor irremediável e geograficamente condenado a viver nas traseiras da Europa cristã, carregando anos a fio o luto da sua pena, a sua cruz da culpa, a sua paixão e não há uma Nossa Senhora de Fátima jeitosinha que interceda para aliviar a nossa mácula. Este pathos agudizante do justo ter que pagar pelos caprichos fashionistas do pecador vai tornando cada vez menos velada a obscenidade da matriarca parideira da República. O diabo veste Prada e obriga o justo que veste Zara a viver segundo a fé para saldar a choruda factura. Não há direito. Não há quem nos defenda. A Autoridade já não intervém à séria, não actua, nem condena como nos filmes, porque nos faltam os bons rebeldes, os verdadeiros heróis, e o espaço cénico em cuja a acção se desenrola, decorre invariavelmente neste f*didíssimo desventrado cu de Judas. Governa quem é chique e esperto, nenhuma objecção, nenhuma, rigorosamente nenhuma, … se tão somente se agisse em conformidade c/ o Direito. Tu me dégueulasses!
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2 comentários:

  1. este post cheira (h)à acidez livre de uns bons posts atrás...


    rC gosta disto :)

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  2. Anónimo12:56

    louca, louca (no melhor dos sentidos)
    **kika

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