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Porque não posso dizer que me dói o coração se tenho razão no que se sinto? Porque serei tomado por louco ou culpado quando perco o tacto e o olfacto do real? Porque não posso declamar entre tremores e p/ ninguém este vaporado sentir? Porque só de pão e malabarismos circenses sobrevive o tipo-ressentido, natural dos tacanhos logradouros meridionais. Uma questão de escala.

Porque só ali, ali. Ali, é permitido procurar uma luz diferente que acalente uma profecia. Porque só ali, ali, é permitido ocupar o lugar da classe privilegiada c/ direito adquirido a um sol encomendado. Porque só ali, ali, é possível encontrar uma luz diferente, especial, inocente, para iluminar silhuetas interiores cristalizadas. Porque só ali, ali, na densidade de um refúgio incomensurável de Petersburgo, imponente na sua liberdade espiritual, perplexo na alva vastidão da sua sinceridade, é possível encontrar as palavras certas para nos aproximar da mais absoluta verdade.


Desenganem-se aqueles que pensam que escrevo sobre a obra literária a partir da qual se inspirou a peça a que eu & Cia. Lda. fomos assistir. não. Escrevo sobre o jogo do tira-teimas, onde a palavra (pensamento) é o peão que põe o dedo na ferida quando a luz, o ideal, o sonho, a Nastenka, ou demais casas da fortuna imaginárias que se assumem num corpo esfíngico esculpido em figura de gente, presenças evasivas monumentais, rareiam abrindo espaços vazios no frio tabuleiro existencial. A palavra, tal como a imaginação, uma das suas variantes em 3D, só existe para evidenciar o nada ou a vazia-ausência que nos habita. nomeio tudo p/ congregar a totalidade dos desencontros dispersos em paisagens interiores, enregeladas por uma assombrosa perplexidade imóvel. Aquela noite, concebida ou bem f*dida, de forma intensa, deixou-se alflorar livremente pelo mais profundo sentir, como seria de esperar.

Sobre ele. Há quem lhe chame de senhorio de si próprio, embora prefira definir-se no sentido mais lato do termo de tipo, mas não um tipo qualquer: um herói exequível na economia paralela à razão, latifundiária desregrada das emoções. Ele, um dos poucos gajos que compreende esta dor de sentir. de existir s/ escala.

Platão disse um dia que a luz da rua é fatalmente traidora, deve ser por isso que prefiro o cair do pano crepuscular daquela noite, cerrada entre quatro paredes familiares confinadas a palco de sombras legítimas que excluem qualquer tipo de equívoco, ou cegueira.

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